Bandeja Paisa
Dá pra se localizar no tempo tanto pelo calendário gregoriano quanto pela comida
Depois de dois dias de deslocamento, como é maravilhoso um chuveiro quente, uma cama confortável e aliviar as costas do peso da mochila. Tudo acontece ao mesmo tempo em todo lugar, feito o filme. O jogo da Argentina virando várias vezes. A fila da imigração. Na Colômbia se diz fila ou cola? Fila. Cola é em Cuba. A última vez em que havia saído do país foi indo ao Chile, em 2019. Há quase quatro anos, e um bocado de espanhol a menos no meu vocabulário. Ainda assim: ¿Se dice tarjeta de celular, tarjeta SIM, SIM card? Com chip, tudo corre bem. Então, limonada de coco.
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2019 também foi um ano em que investi em brincar de cozinha. Comidas bonitas, baratas, variadas, coloridas, obviamente, veganas. Uma versão possível de arepas (porque de fubá, e não com a farinha de milho correta) circulou muito pelos três tetos que habitei desde então. A primeira sempre saindo mais crocante. Hoje, comi uma colombiana, macia, feito uma panqueca, mas diferente.
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— ¿Entonce’ el tinto es un café americano?
Tem alguma coisa em comum entre Medellín e BH. El Poblado parece a região do Sion e Praça do Papa. As montanhas e a Serra. As comunas e as favelas. Alguma amabilidade. Praças, vistas. E muito, muito café.
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Muitas coisas comi apenas em versão vegana. Nunca enfiei um peixe cru na boca, mas gosto bem de uma comida japonesa vegetal. Foi excelente pra minha alimentação e ânimo na cozinha, tirar derivados de animal da comida. Agora, quando viajo, é uma bela duma alegria ver uma comida tradicional vegetal. É uma relação diferente com a comida, com menos interferência de transtornos-alimentares-etc. É começar a viver o comer do rezar amar. Ainda mais agora, que estou recuperando o apetite que foi azucrinado por covid, o que considero o ápice da curva desastrosa da minha relação com cozinhar/comer dos últimos meses. Acho que por isso é bom sair. Bem como sair da língua usual.
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Tenho minhas ressalvas com essa ideia de nos reconhecermos [brasileiros] latinoamericanos; nessa identidade que envolve salpicar a y em frases em português, reproduzir a arte da América invertida e repetir: fomos todos colonizados, hermanos. Não cheguei a nenhum ponto de pensamento eloquente e satisfatório sobre isso. Mas ainda tem algo de curioso, fala e comportamento, jergas y costumbres, que é interessante, curioso, familiar, identificável [se distingue] e magnético, solto pelas ruas. Espero ter muito o que observar nos próximos dias.
Um textinho espontâneo rápido enquanto viajo. [Que saudade que estava dessa configuração!]
Um beijo,