Se tem uma coisa que posso afirmar que me intriga, de longe, é aquela sensação de eureka, é isso, insight ou algo que descreva essa iluminação de se ver diante de uma informação valiosa. Ou um lugar que tem um clima. Alguma língua no mundo deve ter um nome para isso, em algum idioma, e só neste, exclusivamente. Como em tcheco, “vybafnout” aparentemente significa algo como assustar um irmão mais velho fazendo “bu!”. Agora, escrevo pelo mental floss: fazendo algo que remove as placas dos meus miolos. Desobstruindo uma série de coisas que impregnam usando palavrinhas que chegam nas vossas caixas de entrada. Obrigada por isso.
Me lembro de quando era criança e fiquei deslumbrada com uma colocação (que agora é meio maçante, repetida à exaustão): de que, como a lua, sendo um corpo celeste que interfere nas marés terrestres, poderia não nos influenciar, sendo nós seres compostos por 70% água? E veio a sensação, um conforto mais reconhecimento mais certa magia mais deslumbre científico e por aí vai. Acho que a melhor maneira de definir essa coisa seria “sensação de fazer sentido”, realize (eng), forma sentido (esp) também me parece bonito. Ficou esse sedimento que me fez atravessar várias místicas até realmente ver uma ciência ali, incorporada de um jeito mais poético. Agora, se essa lua cai em um mapa astral e justifica uma pessoa ser mais ou menos chorona, é outra história. O negócio é a conexão, tudo formando relações. Pensei nisso quando cruzei com a série (em andamento) “Flecha Selvagem”, que costura saberes ancestrais com seus primos das ciências [várias]. Uma criação de Ailton Krenak e cia para adiar o fim do mundo.
Um parente desse intrigamento (outro nome que vou deixar para essa sensação amorfa) é a busca por lendas. Histórias centenárias, milenares de um lugar x. Em 2019, estive no deserto do Atacama. Quando fui, sabia que queria (muito) ir em uma livraria/editora que ficava no meio de uma ayllu (uma comunidade andina). Andei uns 5km, estava fechado, voltei andando os 5km, arrasada.
Chegando novamente em San Pedro de Atacama, onde me hospedava, acabei caindo um lugar onde a tal editora estava expondo. Comprei o livro feliz, mesmo estando no começo de um mau tempo na cidade, mesmo estando desgastada. Alguma coisa (de novo a sensação) ali naquela cidade me fez um convite e entregou o que eu buscava, entre percalços. Consegui ao menos meu livro de lendas e a sensação do todo era incomunicável.
Já tem alguns meses que percebo esse movimento de pessoas indo a Lisboa. Muita gente, em uma mesma época, como um rebanho que se desloca até São Paulo em época de Lollapalooza, que vai para Paraty no mês da FLIP, que vai para ______ (complete com o roteiro esperado da sua bolha). Foram alguns momentos tentando ver se Lisboa acionaria algo tácito em mim, mas me veio mais como um silvo discreto. De vez em quando consulto a ideia para ver o que acontece. Gosto de pensar em viagens assim; a partir dessa reação do corpo.
Li algumas vezes semanas atrás que Portugal tem estimulado a entrada no país para incorporar como mão de obra: o tempo de visto se estende para quem busca emprego. No final, a coisa faz sentido. Era um movimento asseado demais para ser norte dessa coisa-sem-nome. Se todos os caminhos levam a Roma, posso dar uma passada ali em um outro momento. Rota não vai faltar. Mas falar sobre viagens é coisa de outro texto. Por agora, deixo esse mistério da resposta do corpo para a própria mente. Por bem ou por mal.
“Por mal” fica pela força da expressão, mas aquela reação mais incômoda vai entrar aqui mais como menção honrosa, já que tudo tem sua própria serventia. "O que não é dito vai se manifestar no corpo" é uma frase retirada do podcast A loucura nossa de cada dia, do episódio abaixo, e diz da importância de falar; comunicar o que sucede aí, debaixo da derme. Não conseguir botar para fora pode colocar para dentro um chumbo em forma de enxaquecas insanas, ou o que mais for. E como é bom reconhecer que aquele caminho não forma sentido, não spark joy, não dá um negócio, ou dá um negócio ruim. Mesmo que todo mundo tenha parado ali, estacionado em Lisboa, e você resolva que o México é mais interessante, mesmo que desafiador. Mesmo que o gps tenha recalculado a rota 500 vezes. Porque como é bom tomar conhecimento. Mesmo que provisório.
Obrigada pela companhia de sempre (ou, se nova: seja bem vinda(o)!).
Um beijo,
E então tudo terminou em Lisboa
Tu escreveu "intrigamento", eu li "irrigamento" e segui o texto todo contente pensando nessa palavra nova pra refletir a vida! 🤗