Não subestimar o poder da música sobre o mal estar. Um pequeno lembrete. Em alguns momentos complexos, por assim dizer, eu costumo organizar uma pequena seleção de músicas (que acaba se desgovernando e fugindo do propósito inicial) para alimentar e/ou direcionar um pouco o estado emocional do momento. Estado de frangalhos, de vazio, de raiva, de paz, de dar-a-volta-por-cima. Na sintonia certa, posso ser levada por essas ondas, e a intenção é um pouco essa.
Não subestimar a força da estética. Somos visuais e vaidosos, como tantos outros animais o são, cada um à sua maneira. A beleza (que não mora apenas naquele ponto atrás dos olhos, mas também atravessa outros sentidos) nutre a alma, mexe com o balanço das emoções. É fácil associar automaticamente a alguma mística barata, mas te proponho o exercício de ser menos rabugento (como eu própria sou com frequência) e se dar uma chance de atravessar o ranço e reconhecer o trigo no joio. A partir do que faz sentido para você.
Não subestimar o poder das palavras. Me lembro muito bem de uma sessão da análise, há um bocado de tempo, em que desacreditei oralmente do papel da palavra (falada e escrita) como apoio num processo de melhora. A analista me devolveu essa declaração e me assustei. Estava meio frustrada naquela época, explosiva. Fiquei com isso guardado no fundo do peito. Eu, que costumo escrever desde que me entendo por gente, que fiz autoanálise de word antes de saber o que era autoanálise. Fui testemunhando ao longo dos anos o modo como essa relação foi sendo modelada de um modo sempre interessante e meio misterioso.
Não subestimar o poder da disciplina. De comer bem, de respirar fundo, de se garantir o básico, de lavar a louça antes de dormir, de ter alguma rotina. Com ela, salpicamos nos nossos dias simbolizações daquilo que nos é caro. E perceber um processo e o consequente movimento faz uma diferença considerável na forma como nos entendemos, no nosso humor e senso de individualidade. Essa atenção oferece uns outros bônus. Tem um tantinho de autonomia que vamos treinando, além de reconhecer que aquilo que queremos não vai cair nas nossas mãos sem mais, nem menos. Que não vem necessariamente fácil, confortável, leve, automático e, acima de tudo, natural. A facilidade de aderir a x ou y, a tentar fazer uma coisa ou outra, pode ser uma perspectiva para tentar identificar o que, a partir da sua história, te vem com menos esforço. Mas reconhecer o esforço, manejar uma dose de desconforto, medo e incerteza é mais valioso do que se lamentar por não ter supostos dons e não ser feito para aquilo. É menos fácil. Mas bem gratificante.
Esse texto estava no rascunho há bastante tempo; fiz alguns ajustes e inclui a foto do buquê que ganhei na defesa da minha dissertação, duas semanas atrás. Ainda estou muito afetada, grogue e numa mistura de empolgada com as possibilidades e assustada por elas. Espero voltar com mais frequência — mas nunca colocando frequência acima da relevância do texto.
Um beijo,